quarta-feira, 5 de julho de 2023

• A sociedade é contemporânea. Mas a conduta ainda é medieval...



A multidão sedenta por sangue ataca legumes num enforcado ainda pendurado pela corda que o asfixiou até a morte. Vilão ou não, o morto está lá pra impor moral.


O tempo está nublado, o chão enlameado. O cheiro de esterco é insuportável e se mistura com o odor fétido dos excrementos humanos jogados nas ruas, graças a falta de saneamento e higiene básica.


Um grupo de plebeus iludidos com o monarca regente empunha rastelos, pás, tochas, entre outras armas improvisadas, em prol de atacar o aglomerado de religiosos fanáticos que, em nome de Deus, justificam seus piores crimes (o tal enforcamento ali presente exemplifica). É a religião versus a política... A guerra cega dos interesses ocos... A colisão entre os tipos de burrices.


Então vem o derramamento de sangue, inclusive, de crianças inocentes que corriam assustadas do alvoroço. A batalha é tão destrutiva que o enforcado acaba sendo decapitado por acidente: “alguém se pendurou nele! ”


O Cardeal surge e determina que os guardas interfiram na confusão.


Todos são assassinados sem misericórdia, tanto os tapados religiosos e quanto os escravos da monarquia.


O Cardeal gargalha como se o Diabo em pessoa tivesse entranhado nele. O Rei, viúvo, quando fica sabendo do êxito da chacina, nem sequer se importa. Sua Majestade enche a taça de vinho, mastiga, como um animal selvagem, a coxa do frango mal assado enquanto libera seus gases intestinais, sendo acariciado por suas três concubinas que não passam dos 13 anos de idade.


As eras mudam, contudo, o sapiens continua fazendo o que faz de melhor, que é mostrar ser incapaz de evoluir.


As grandes tragédias do planeta Terra existem, talvez, eternamente. Só trocam de nomes conforme as fases da humanidade se modificam. É histeria em massa. Caos social. Burrice epidêmica. Ausência voluntária de instrução.


Ninguém questiona.


Corpos sem cérebros geram receptáculos pra forças maiores os conduzirem. Dentro dessa dimensão podre a única coisa que os poucos caídos como eu podem fazer é optar pelo silêncio e pela invisibilidade.




Como dizem: "vocês que se entendam!".



















Texto e fotos por Dan DellaMorta

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